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Amando


O Amor e a Remissão

Há tanto o que dizer da poesia deste poeta, rica de imprevistos, naunces, surpresas e achados, que pálido se torna o texto, como este, tentando defini-la em poucas linhas. É que estamos diante de sustos continuados ao correr deste livro.  Sustos que nascem do desenho formal de cada poema e se aprofundam – diria melhor: estilhaçam-se – em múltiplas ressonâncias, num arco muito grande, que vai do caricato ao lirismo amoroso, ao recolhimento intimista e à dor. A própria apresentação da obra, muito bem intuída, chaplinianamente crítica e de humor doido, sinaliza nessa direção. E embora o livro esteja dedicado à Mulher, nem só dela e para ela vive a obra. Porque Alfredo Assumpção, o Lé, se traz para primeiro plano a figura feminina, do seu perfil romântico ao comportamento erotizante, ele, por outro lado, abraça muita coisa mais: busca ser totalizante, abrindo ao máximo o seu visor, direcionado ao seu mundo interior e circundante.

Dá a impressão pronta e imediata de trepidância e impulsos velozes, com muito de repulsão, diante de tudo e de todos. E dá, ao revés, uma amostragem viva e espelhada de vida vivida e de suas fugacidades. E vai além: sintetiza tudo num dar-se por completo, até diante da denúncia ou dos momentos de inquietações intensas. Eis por que vem ao vivo, inesperadamente mas constante, uma sombra de que para ele, poeta, tudo é um pouco disperso e anárquico.Essa aparente desordem é bem o porejamento de vida, com toda a sua latejância, que perpassa por todos esses poemas.

Quaisquer destas criações, tomadas ao acaso, são arremates belos de expressões poéticas.”Preciso me matar um pouquinho”, diz ele no início de “Me Faça Chorar”, como anuncia em “Sintomas de Culpa”: “É preciso que me liberte de mim para me identificar com outras vidas...” Ou, ainda, “Me Entorpeço”: “Meu copo se refaz em ausências./Nenhum amigo, nenhuma amante...” As citações continuariam, norteadas para uma sinalização única: o poeta, inconscientemente, disfarça muito, nunca  deixando vir à tona sentimentos de muita aceitação, bordejando o inconformismo diante da solidão. Tal prova é que, já no poema seguinte, vem pronto: “A desilusão não me assusta”.

Não é o poeta contraditório: é o contraditório da vida; é o poeta lúcido e lúdico, num jogo de luz e sombra com ele próprio e com os desconsertos deste mundo caótico.

É tão notável a capacidade criadora de Alfredo Assumpção, o Lé, que vai do poema longo e regionalizado – “Josefa das Quadrias” – ao de intenso lirismo logo a seguir – “Caminho Abstrato” – com o mesmo pulso e impulso artístico, da mesma maneira como se comporta, com maestria, nos de poucos versos. Estes pequenos grandes poemas guardam tanta densidade, e mesmo cintilância, que parecem vivos por pulsações próprias. Tomemos – sempre ao acaso – este exemplo: “Versos a Nada”. Pulemos para essa quadra de vida:  “Um Disco e um Drinque”. Temos, no primeiro, a pontuação rápida de quase uma acusação amorosa; no segundo, a realidade palpável e caminhos desfeitos. E temos, diante de nós, um poeta de excelente nível dentro do restrito cenáculo sagrado dos deuses.

“Amando é, claramente, o poeta amante. Mas solfejando também suas triste¬zas, alegrias, e observando o mundo, sentin¬do-o, sem pessimismo, mas não acreditando muito ou desconfiando da sua salvação sem que haja aquele dar-se referido e sem o Amor, no seu sentido amplo e totalizante, que tudo redime.” (Caio Porfírio Carneiro)

Caio Porfírio Carneiro
Secretário Administrativo da
União Brasileira de Escritores (UBE)

Quarta capa

Meu passeio pela minha
esperança
trouxe-me a você quieta
num canto

Meu feitiço é algo proposital
como amor de quem
mais goza que ama.

Suas pernas me oferecem
seu queixo que se debruça
por sobre sua nuca.
Louca, repousa, ventre
aos céus.

Ficção que apalpo,
procuro, beijo e realizo.
Calor que me suga e extirpa,
quando molha se dando.

Quem seria quieta louca?...
Uma dia a quebro como se fosse
um brinquedo de barro

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